Funções Bíblicas de um Ministro

 

Roberto Silvado[1]

 

English Abstract

BIBLICAL ROLES OF A PASTOR - Roberto Silvado

Doctor in Ministry and theological lecturer at Faculdade Teológica Batista do Paraná, Roberto Silvado proposes a reflection on pastoral action after analyzing the biblical role for the ministry and what has been practiced in Brazilian churches nowadays.

 

 

 

Nos tempos do Novo Testamento os ministros eram tidos em alta estima como dádivas de Deus - eles eram “os primeiros entre iguais”. Eles não estavam separados do povo de Deus. Eles permaneciam como parte do “laós” (leigo). Eles pertenciam a um corpo no qual os membros exerciam funções importantes. Eles tinham um ministério mútuo, um ministério que era da igreja.

Bruce Grubbs, na Tabela 1, mostra como a função e posição do pastor na igreja se desenvolvem e relacionando-se às imagens do Velho Testamento3

 

 

Tabela I – Imagens Pastorais e Bíblicas

Velho Testamento

Novo Testamento

Funções Básicas

Profeta

Profeta/Evangelista

Proclama a mensagem de Deus.

Sacerdote

Pastor/Mestre

Cuida, aconselha, Guia no entendimento da Justiça e no fazer Justiça.

Rei

Apóstolo

Lidera, Governa, Estabelece regras para a vida comunitária do povo.

 

Pesquisando o que já foi escrito por autores cristãos sobre as “imagens” do pastor, podemos citar seis imagens como sendo as mais utilizadas:

1. Pregador - Um porta-voz de pontos-de-vista e informações que tem por objetivo persuadir e mudar as pessoas em certa direção. (I Tim. 5.17; Tito 1.9).

2. Profeta - Fala dos males sociais de modo a trazer de volta a política e prática social que mantém a vontade de Deus. Modelo inspirado nos profetas do Velho Testamento.

3. Sacerdote - Conduz os rituais necessários a experiência religiosa humana animal. Elaborada com base nas funções sacerdotais do Velho-Testamento.

4. Mestre - Capacita o povo de Deus para conduzir o ministério cristão no mundo. (1 Tim. 5.17; Tito 1.9; Ef. 4.11-2).

5. Pastor - Apascenta e alimenta o rebanho sendo o seu guia espiritual. (Ef. 4,11; At. 20.28; I Pe. 5.1-3)

6. Administrador e Gerente - Estabelece alvos tornando- se um facilitador da vida da igreja e da sua programação (I Tim. 5.17; At. 15).

Existem ainda algumas funções bíblicas raramente citadas pelos autores, tais como: evangelista, alguém que cura, servo e líder apóstolo.

Wayne Oates resumiu o modelo bíblico para a função de pastor como segue:

Para ser o representante de Deus, o embaixador de Cristo, o instrumento do Espírito, e o emissário da igreja, o pastor deve ser uma pessoa qualificada. Isto requer uma capacitação espiritual fora do comum e também estabilidade emocional.[2]

 

As funções “Pré-fabricadas” de um Ministro

Embora possa haver sistemas de valores dominantes dentro da congregação, individualmente, os membros apresentam aos ministros expectativas de amplo espectro no que tange à sua função. Estudos tem mostrado que os componentes de uma congregação cristã esperam que o ministro seja o responsável pelo ministério multifacetado.[3] A própria cultura eclesiástica oferecerá e imporá uma camisa de força com funções “prontas” se o ministro estiver disposto a aceitá-las sem fazer muitas perguntas.

Mas por outro lado, a vida é geralmente mais fácil quando nós entendemos onde nos encaixamos. Por isto podemos dizer que a cultura eclesiástica também terá algumas riquezas preparadas para cada ministro.[4] O grande desafio para qualquer ministro é entender quem ele é e perceber concidentemente como esta cultura eclesiástica, ou expectativas da congregação, podem sufocar e estimular a expressão completa do ministério que Deus deseja realizar através dele.

Certamente as pessoas abrirão espaço para um ministro que desejar corresponder às suas expectativas e terão alguma resistência provocada por expectativas frustradas.

Algumas funções “pré-fabricadas” de um ministro que normalmente estão na mente e no coração dos membros de qualquer igreja são:

1.       Um guardião da moral pública - Ele deve ficar de olho naquilo e naqueles que ameaçam a moral tradicional de outras pessoas. Ele cuidará especialmente dos nossos jovens.[5] O ministro e sua família são peças vivas do “museu de ética cristã”. Eles têm a responsabilidade de mostrar como “tudo era maravilhoso” antigamente.

2.       Um capelão da cultura - Os últimos anos fizeram as pessoas mais conscientes do que pode ser chamado de “religião civil”. E uma estranha mistura de nostalgia e patriotismo, de valores morais e espirituais que sustem o “status quo”. A “religião civil” talvez seja a maior adversária de uma fé genuinamente cristã em regiões vivendo a era pós-cristã como a América do Norte e Europa.”[6]

3.       Uma pessoa da organização - Muitas denominações podem manter seus ministros ocupados com programas que são enviados regularmente ao seu escritório. Eles deveriam ser usados como suplementos ou sugestões, porém acabam substituindo o cuidado pastoral. Sede pelo poder e fama podem ser armadilhas que afastam o ministro da sua congregação tornando-o o “homem da denominação” em detrimento do seu ministério na igreja local.

4.       Um intercessor ou um “amuleto” espiritual - Ele é convocado para “fazer uma oraçãozinha” ou supostamente usar de sua influência com o Divino.[7] A cosmovisão pagã e supersticiosa se expressa com uma roupagem evangélica promovendo sincretismo religioso da pior espécie.

5.        Um modelo para a comunidade - Às vezes é um peso ser ao mesmo tempo muito visado e ter que ser um modelo vivo da boa moral, dos bons hábitos, do casamento perfeito e de pai exemplar. No entanto, esta é uma das expectativas mais comumente impostas aos ministros pelos leigos. “Não é uma coisa ruim ser isso, o ruim e ter que ser isso, a qualquer custo.”[8] Existe um preço a ser pago por quem “vive no aquário”. Não apenas o ministro, mas qualquer figura pública viverá a tensão entre aparentar o que o público deseja ou ser autenticamente humano vivendo uma vida cristã autentica.

6.       Um “faz tudo” - Ele faz as compras, ele monta (e desmonta) as mesas, ele supervisiona todas as obras e reparos, vai comprar gás para os membros, etc. O “faz tudo” pode se esconder atrás desta conduta para não realizar o ministério pastoral necessário.[9] Aqui ceder à tirania do urgente torna-se um estilo de vida considerado ideal de ministério cristão.

                Vários autores citam outras funções pré-fabricadas do ministro do evangelho. Para Thomas Müllen a função ministerial pode ser subdividida em quatro partes: 1. O Capacitador; 2. O Agente Catalisador; 3. O Mestre; e 4. O Homem da Verdade.[10] Já Lyle Schaller identifica doze funções do ministro: 1. Mestre, 2. Conselheiro, 3. Administrador, 5. Visitador, 6. Líder entre líderes, 7. Líder que Aconselha e Guia, 8. Líder Comunitário, 9. Exemplo no Crescimento Espiritual e Pessoal, 10. funcionário da denominação, 11. Dirigente de culto e pregador e 12. Treinador que capacita os membros para o exercício do seu ministério.  [11]

Podemos concluir pela observação que na realidade qualquer ministro eficiente realiza todas estas funções de vez em quando. Dificuldades surgem quando um ministro se torna comprometido apenas com uma destas tarefas, ou exclui uma delas, ou enfatiza umas enquanto a congregação prefere outras.

Deve-se obter um equilíbrio adequado e, graças a Deus, Jesus é aquele que traz este equilíbrio para as nossas vidas e ministério. As habilidades e interesses pessoais devem ser levados em consideração assim como as expectativas, os desejos e as necessidades da congregação. O processo de negociação das expectativas com posterior valoração de certas funções deve começar quando o ministro for entrevistado pela comissão de sucessão pastoral e deve continuar durante todo o tempo em que estiver trabalhando naquela igreja, permitindo assim que mudanças ocorram. O conceito principal é manter-se flexível. Uma igreja não precisa necessariamente mudar de ministro a cada cinco ou dez anos se ela e o seu ministro renegociarem periodicamente as suas expectativas de função ministerial.

 


[1] Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em

Divindade e Doutor em Ministério pelo Southwestern Seminary Baptist Theological,

Forth Worth, Texas (USA), prof. da Faculdade Teológica Batista do Paraná e pastor

da Igreja Batista do Bacacheri (Curitiba,PR).

4 Wayne Oates, The Christian Pastor (Philadelphia: Westminster Press, 1956), p.43.

5 John T. Biersdorf, ed., Creating an Intentional Ministry (Nashville: Abingdon, 1976),  pp. 46-47.

6 Gene E. Bartlett,  The Authentic Pastor (Valley Forge, PA: Judson Press, 1978), p.11

7 Ibid., p. 10

8 Ibid., p. 11

9 Ibid., p. 12

10 Ibid., p. 31

11 Ibid. p.32

12 Thomas J. Mullen, The Renewal of the Ministry (Nashville: Abingdon Hess, 1963), p. 59.

13 Lyle Schaller, The Pastor and The People (Nashville: Abingdon Press, 1973), p. 46.