UMA ANÁLISE DOS CAPÍTULOS 8 A 11 DE EZEQUIEL, A PARTIR DA PERSPECTIVA SEMIÓTICA

An analysis of chapters 8 to 11 of Ezekiel, from the semiotic perspective

Drª Marivete Zanoni Kunz1

Resumo

O presente artigo apresenta parte de uma pesquisa desenvolvida pela autora, em seu curso de doutorado, o qual consistiu numa análise dos capítulos 8 a 11 do livro de Ezequiel, sob a perspectiva de uma leitura semiótica. Nessa análise, observou-se detalhes sobre o espaço, sobre os personagens e sobre suas ações. Neste artigo, deu-se ênfase apenas à alguns aspectos da semiótica, a saber, os aspectos que envolvem o plano de expressão (nível discursivo). A pesquisa destacou o uso e as peculiaridades do próprio texto, valorizando a produção de sentido do mesmo. É importante destacar, dentro desta proposta, que houve consulta a vários autores, especialmente a Greimas, o precursor da teoria semiótica.

Palavras-chave: Ezequiel. Semiótica. Espaço.

ABSTRACT

The present article presents part of a research developed by the author in her doctorate course, which consisted of an analysis of chapters 8 to 11 of the book of Ezekiel, from the perspective of a semiotic reading. In this analysis, we observed details about space, about the characters and about their actions. In this article, emphasis has been placed only on some aspects of semiotics, namely aspects that involve the plane of expression (discursive level). The research highlighted the use and peculiarities of the text itself, valuing the production of meaning of it. It is important to point out, within this proposal, that there was consultation with several authors, especially Greimas, the precursor of semiotic theory.

Keywords: Ezekiel. Semiotics. Space.

Introdução

O presente artigo apresenta uma reflexão dos capítulos 8 ao 11 do livro de Ezequiel, a partir de elementos que fazem parte de uma leitura semiótica, buscando interpretar o sentido do espaço neste texto, bem como as ações dos personagens que estão envolvidos nesse relato. Devido ao espaço disponível, o foco será reduzido e o destaque ficará apenas em alguns aspectos daquilo que envolve a análise do plano de expressão, ou seja, delimitação, possíveis formas de estrutura do texto e para finalizar será feita uma sinopse deste espaço e das respectivas ações ali ocorridas.

1. Análise do plano de expressão nos capítulos 8 a 11 de ezequiel2 - A delimitação ou segmentação3

Esta parte conciste no processo inicial, necessário para a familiarização com o texto a ser estudado. Por isso, aqui enfatiza-se as formas de expressão do texto, pois, para compreender os sentidos do texto, é necessário avaliar sua textualidade4 ou discursividade.5 É a manifestação do conteúdo, através de um plano, que faz surgir o texto.6 Quando fala-se em textualidade é importante destacar que esta é a função da relação do texto com ele mesmo e com a sua exterioridade, pois, como diz Lagazzi-Rodrigues, “é pensando a relação do texto com sua exterioridade que podemos pensar não a função do texto, mas seu funcionamento”.7 Lagazzi-Rodrigues também enfatiza que quando uma palavra tem significado é porque, na realidade, há um discurso que a está sustentando, e por detrás dela há uma realidade significativa. Neste sentido, o trabalho ou análise não ocorre da história para o texto, mas parte do texto com suas marcas, enfatizando assim a historicidade presente no texto; ou seja, é a busca por como tal matéria textual está produzindo sentido. Embora exista ligação entre a história e a historicidade do texto, o conjunto dos sentidos presentes provém primeiramente da sua textualidade.

Num discurso, além da questão semântica, deve-se considerar a organização da narrativa que “costura o discurso, a argumentatividade, que lhe dá direção, e a coesão textual, que emenda as frases”.8 Neste sentido, o destaque aqui será de como acontece a estruturação ou constituição do espaço, conforme os locais e os sujeitos inseridos no discurso.

A delimitação ou segmentação9, da ênfase a algumas marcas linguísticas encontradas no texto. Aqui tal verificação ocorrerá nos capítulos 8 a 11 do livro de Ezequiel. São estas que indicam os limites do texto. Isso ocorre a partir de mudanças significativas ligadas tanto a pessoas, como a tempo, espaço e vocabulário.

Os capítulos 8 a 11 formam um bloco por estarem ligados a partir de marcas, tais como o espaço dos acontecimentos. Nestes o profeta estava descrevendo as visões que teve do templo de Jerusalém. O capítulo 12 não faz parte deste grupo de textos selecionados porque apresenta o profeta em outro contexto, que não está ligado à visão que ele teve do templo de Jerusalém. Além disso, muitos personagens que apareceram nos textos dos capítulos 8 a 11, a partir do capítulo 12 não mais são citados

Algumas frases ou expressões marcaram o texto e ajudaram a mostrar a segmentação do mesmo. Uma destas expressões encontrada nestes capítulos selecionados, é a seguinte: “você verá práticas ainda piores que estas”. Esta marca pode ser vista em vários versículos, mais especificamente nos momentos em que eram apresentadas as várias práticas ou ações cometidas pelo povo. Entretanto, na apresentação da última abominação, no versículo 16 do capítulo 8, tal frase “pois verás práticas ainda mais repugnantes do que esta” não mais aparece, mas há a ênfase de algo crescente, por meio da expressão “coisas piores”.

Ainda outra marca pode ser identificada nestes capítulos, evidenciada pelo texto por meio da conjunção “então”. Esta expressão apareceu várias vezes em todo o texto. Ela fez parte da performance desenvolvida pelo sujeito destinador, que em alguns momentos mudou a expressão para uma conjunção conclusiva, identificada como “pelo que”. Tais expressões não são mais encontradas a partir do capítulo 12, o quem mostra que neste capítulo é concluído um assunto.

2. Análise do plano de expressão nos capítulos 8 a 11 de ezequiel – A Estruturação10

É fundamental considerar os vários tipos de estruturações que podem ser utilizadas em textos. Cada texto possui características próprias. Aqui verificar-se-á a estrutura a partir dos espaços nos capítulos do texto bíblico, segundo o papel dos sujeitos entre outras possibilidades. Devido ao tamanho do texto e as possibilidades encontradas, esse ponto é mais longo que os demais.

A ênfase nesta estruturação é a organização a partir do que o texto mostra em termos de espaços e sujeitos. Todas essas formas diferentes da estruturação deste discurso devem ser consideradas porque, como afirma Cássio Murilo da Silva, “[...] nossa capacidade de compreensão pode ser iludida, não só pela questão de ideias pré-formadas que temos a respeito do texto em questão, mas também por nossa falta de hábito de avaliar cada um dos elementos que o compõem, [...] deixando de dar a devida importância às palavras e às frases”.11 Toda esta forma de estrutura escolhida tem a intenção de compreender a configuração do discurso, na produção de sentido do texto.

2.1 A estrutura do texto dividida de acordo com os espaços dos capítulos 8 a 11 de Ezequiel – Organização textual e sequenciação

Na estrutura do texto há vários espaços específicos que serão apresentados de forma breve na sequência, conforme seus capítulos:

2.1.1 Capítulo oito

Primeira parte (8.1-2): descrição do espaço na Babilônia.

Segunda parte (8.3-6): descrição da entrada de Jerusalém até a entrada da porta do pátio de dentro, para o caminho do norte. A partir desta parte tem-se o monólogo de Deus, que foi dividido em vários espaços. Essa seria, então, a segunda parte referente ao capítulo oito, mas também a primeira parte do monólogo. Nesta parte houve a descrição da primeira prática repugnante cometida pelo povo.

Terceira parte (8.7-13): descrição da visão tida na porta do átrio. Nesta parte houve a descrição da segunda prática repugnante cometida pelo povo.

Quarta parte (8.14-15): descrição da visão tida na entrada da porta da casa do Senhor, no lado norte. Nesta parte houve a descrição da terceira prática repugnante cometida pelo povo.

Quinta parte (8.16-18): descrição da visão tida no átrio interior da casa do Senhor, à entrada do templo, entre o pórtico e o altar. Nesta parte houve a descrição da quarta prática repugnante cometida pelo povo..

Todos estes espaços que o profeta viu foram diferenciados. A mudança de espaço ocorreu sempre por meio da expressão “levou-me” (8.3,7,14,16) com ela é apresentado um novo espaço. Os espaços também foram diferenciados pela frase: “[...] você os verá cometer práticas ainda mais repugnantes” nos versículos 6, 13 e 15. Quando foi apresentada a última abominação, no versículo 16, a frase presente anteriormente não foi repetida, mas a conclusão veio com o julgamento (versículos 17 e 18). Estas frases também deram uma ideia de algo crescente, por meio da expressão “práticas piores”. Os termos utilizados para “coisas piores”, a partir do original hebraico, foram t0lOdöG t0be80T (to´evot gedolot), os quais dizem respeito à abominações grandiosas. Apesar destes espaços serem diferenciados por atitudes cometidas nos vários ambientes, eles estão interligados, pois as práticas repugnantes aconteceram tanto no espaço da cidade como no templo de Jerusalém.

Vale salientar, também, outra marca da estrutura do texto, ou seja, a conjunção “então” ou, como em algumas versões, “E Ele me disse; Ele então [...]”. Essa marca ou expressão apareceu nove vezes, nos versículos 5, 6, 8, 9, 12, 13, 15, 16 e 17 do capítulo 8. Ela fez parte da performance desenvolvida pelo sujeito destinador, que mudou a expressão para uma conjunção, também conclusiva, no versículo 18 do mesmo capítulo. A expressão deste versículo, “por isso”, foi proposital para que se fizesse uma diferenciação, ou seja, a conjunção mostrou uma ação que viria a seguir. O interessante é que logo a seguir, em 9.1, encontra-se novamente a conjunção “então”. Através desses percursos, observa-se que houve uma mudança de enunciado, ou seja, o enunciado da visão transformou-se em um enunciado de ação, por parte do Senhor ou do sujeito destinador.

2.1.2 Capítulo nove

Primeira parte (9.1-3): descrição da chegada dos intendentes ou daqueles que destruiriam a cidade de Jerusalém.

Segunda parte (9.4-7): descrição da ordem de destruição da cidade e da matança daqueles que cometiam práticas repugnantes.

Terceira parte (9.8-10): descrição do clamor do profeta e da resposta do Senhor.

Quarta parte (9.11): descrição da conclusão da tarefa dos intendentes.

É importante observar que este capítulo está ligado ao anterior, pois é a conclusão da ação expressa nele. É aqui que ocorre a execução do castigo que foi anunciado anteriormente por meio da visão e acontece a matança por meio de executores angelicais.12

Como citado acima, este capítulo inicia com a conjunção “então” ou “e disse”. A mesma ainda aparece nos versículos 4 (para indicar que aqueles que não cometiam abominações seriam marcados para não morrer), no versículo 7 (indicando o início da matança) e no versículo 9 (como início da resposta ao clamor que fez o profeta). O termo que é traduzido por “então”, no hebraico aparece como “e disse”, mas ambas as traduções não prejudicam a compreensão da mensagem. Este capítulo apresentou o que pode-se chamar de enunciado da ação, por parte dos intendentes. A ação foi tanto de extermínio dos que cometiam abominações, quanto de marcar os que não cometiam abominações para que estes não fossem exterminados. Tal ação foi confirmada no texto por meio da expressão “fiz como me mandaste”.

2.1.3 Capítulo dez

Primeira parte (10.1-2): descrição da visão do homem vestido de linho recebendo a ordem para que retirasse brasas de entre os querubins para espalhar na cidade.

Segunda parte (10.3-8): descrição do homem vestido de linho recebendo as brasas dos querubins na casa, e da Glória do Senhor indo para a entrada da casa e enchendo o átrio.

Terceira parte (10.9-17): descrição das rodas junto aos querubins, também dentro do espaço da casa.

Quarta parte (10.18-22): descrição da retirada da Glória do espaço da casa e descrição dos seres viventes.

Neste espaço destaca-se a ação da Glória. Somente quando o homem vestido de linho chegou dentro da casa aconteceu a manifestação da Glória enchendo o átrio. Dá a entender que foi como se a Glória o estivesse recebendo para que ele cumprisse a tarefa para a qual foi designado (a matança). O que também chama atenção é que a Glória somente retirou-se deste espaço quando o homem vestido de linho recebeu as brasas. Neste capítulo houve a retirada da Glória do templo para o lado oriental e, no capítulo seguinte, percebe-se que foi dali que o Senhor veio falar do que acontecia na cidade. Assim, ocorre a ligação dos textos.

Wiersbe enfatiza que o fato da Glória de Deus ter partido da entrada do templo e parar sobre o trono que estava do lado direito da casa, foi como se o Senhor estivesse “chamando sua Glória de volta para o trono”.13 E, ao mesmo tempo, o trono elevou-se no lugar em que Ezequiel veria os líderes judeus adorando o sol e onde o Senhor julgaria. Assim, Ezequiel estava aprendendo que o importante na vida da nação era magnificar a glória de Deus, e a presença de Deus no santuário era um privilégio para o povo de Deus e uma grande responsabilidade.14

A ação aqui aconteceu tanto por parte do homem vestido de linho que foi buscar as brasas, quanto dos querubins que as entregaram. A cena que o profeta viu, sem dúvida, foi impressionante, pois após ele afirmar que o homem vestido de linho recebeu as brasas e informar que a Glória partiu, ele continua fazendo a descrição das rodas e dos seres viventes, como algo que o deixou estarrecido.

2.1.4 Capítulo onze

Primeira parte (11.1-13): descrição da visão a partir da porta oriental da casa do Senhor com a profecia contra a cidade.

Segunda parte (11.14-21): descrição da segunda profecia do profeta aos seus irmãos.

Terceira parte (11.22-23): descrição da visão dos querubins e da Glória do Senhor.

Quarta parte (11.24-25): descrição do término da visão e fala aos da Caldeia.

Quanto à referência ao espaço, este capítulo enfatizou a visão ocorrida na porta oriental da casa do Senhor, a qual diz respeito às profecias para a cidade e para o povo que havia sido levado ao cativeiro, e ainda o retorno ao espaço da Caldeia. A expressão “Assim diz o Senhor” revela isso. Devido a descrição neste espaço ser a visão do profeta sobre o recado do Senhor ao povo, este foi dividido pela visão direcionada a determinados personagens.

A fala do profeta aos da Caldeia fechou o grupo de estudos dos textos dos capítulos 8 a 11. Aqui o sujeito destinatário (profeta) cumpriu sua missão vinda da parte do Senhor, e fechou o assunto deste bloco de textos. A fala do profeta revelou que logo seria dado início a um novo assunto.

2.2 A estrutura dividida de acordo com o papel dos sujeitos nos espaços dos capítulos 8 a 11 de Ezequiel

Fazer a identificação do papel dos sujeitos é relevante para melhor compreender a posição destes nos espaços do texto, pois a posição de cada um define a função de um sujeito em relação ao outro. É preciso considerar que toda ação realizada por alguém afeta aqueles que estão ao seu redor. Todas as pessoas que aparecem no texto são caracterizadas através de suas ações ou qualificações, ato este conhecido como “enunciação”. Sendo assim, é significativo que estas pessoas sejam analisadas a partir dos efeitos produzidos pelo próprio texto, ou seja, pelo ato de enunciar revelado no mesmo. A ênfase será dada ao sentido das pessoas apresentadas pelo próprio texto. A análise sêmio-discursiva considera cada pessoa no seu espaço e através de suas ações ou enunciações. Portanto, são descritas as pessoas textuais e discursivas. Esta análise é fundamental para a interpretação do texto.

É importante considerar que esta parte diz respeito à análise de sintaxe narrativa e, como diz Barros, “para entender a organização narrativa de um texto, é preciso, portanto, descrever o espetáculo, determinar os participantes e o papel que representam”.15 Neste sentido, a semiótica propõe concepções complementares de narrativa, ou seja, a narrativa como mudança de estados que ocorre “pelo fazer transformador do sujeito que age no e sobre o mundo em busca dos valores investidos nos objetos; narrativa como sucessão de estabelecimentos e de rupturas de contratos entre um destinador e um destinatário, de que decorrem a comunicação e os conflitos entre sujeitos e a circulação de objetos”.16 Por isso, aqui apresenta-se a função dos principais sujeitos em relação ao espaço descrito nos capítulos 8 a 11. Estes sujeitos serão citados juntamente com os respectivos versículos que os descrevem.

2.2.1 O profeta17

Ezequiel faz uma descrição personificada do Senhor (Iavé), embora a sua aparição em forma de fogo e trovoadas, e também envolvido em uma nuvem, não se refira a tal descrição.18 Este sujeito teve a visão da hwhy d0bök (kebod Yhwh), com foco na imagem que está assentada sobre o carro, a qual seria o próprio Senhor.19 Ele teve a visão da d0bök (kebod) Glória do Senhor, que é um dos temas chave da profecia, bem como a presença de Deus, que sai de sua habitação e vem à casa do exilado na Babilônia, mostrando que a terra estrangeira também é eleita.20

O profeta foi identificado através dos seguintes termos e referências: Eu (8.1; 9.8; 10.22; 11.13) e Filho do homem (8.5,6,8,12,15,17; 11.2,4,15). Para a expressão “homem”, o texto original usou o termo 5fdf9 (`ādām), que não tem uma etimologia que possa ser explicada com certeza, mas está relacionado com o fato do homem ter sido feito à imagem de Deus.21

Ao profeta coube exercer a tarefa ou desenvolver a ação de levar o recado de julgamento ao povo; foi o enunciador que proclamou a mensagem ao povo cativo no exílio. No desenrolar da história, este sujeito realizou a sua tarefa começando com ações simbólicas. O último capítulo deste bloco termina com a afirmação do profeta: “e contei aos exilados tudo o que o Senhor tinha me mostrado” (Ez 11.25).

Ele foi apresentado como quem recebeu os anciãos de Judá em sua casa, os quais estão assentados à sua frente, o que pode estar caracterizando Ezequiel como um sujeito de autoridade, um líder ou alguém que estava transmitindo um recado àqueles que ali vieram. Este é o sujeito que recebeu o toque da “mão do Senhor” sobre si e, tomado por esta mão, por seus cabelos (8.3) foi levado entre “a terra e o céu” até chegar a Jerusalém, onde teve visões de Deus (8.3). Ele foi conduzido a alguns lugares, tais como: 1) a entrada da porta do pátio de dentro, onde estava a imagem que provoca ciúme (8.3); 2) a porta do átrio (8.7) e outros (8.14,16).

Este sujeito viu várias coisas, como: a imagem que provoca ciúme (8.3); a Glória do Deus de Israel (8.4); as práticas repugnantes cometidas pela casa de Israel dentro do santuário (8.6,10,11,14,16); ficou sabendo que o povo da casa de Israel seria tratado com furor e sem piedade, além de que não seria ouvido quando gritasse eu aquilo que a “casa de Judá” cometia (8.17,18); teve a visão da destruição da cidade de Jerusalém. Viu os homens que, com armas na mão, destruíram a cidade, matando jovens, moças, meninos, mulheres e velhos que cometiam práticas repugnantes em Jerusalém. A ele também coube ter a visão da Glória de Deus afastando-se do espaço do templo.

Este sujeito não teve influência nos acontecimentos que ocorreram nos vários espaços apresentados para ele. A sua função em relação ao espaço era apenas de conhecer os acontecimentos e fatos ocorridos tanto no templo como em toda a cidade de Jerusalém, e relatá-los aos exilados.

2.2.2 Deus

Da vivência de Ezequiel com a hwhy d0bök (kebod Yhwh), pode-se concluir que o Senhor (Iavé) é o ser pessoal da hwhy d0bök (kebod Yhwh), pois apareceu ao profeta em uma figura de homem ardente, brilhante, entronado sobre o carro dos querubins, distribuindo brilho para todos os lados.22 Este personagem foi quem deu a tarefa ao profeta de levar a mensagem de julgamento ao povo. Ele foi referido nos capítulos 8 a 11 do livro de várias formas ou conforme os seguintes nomes nos versículos citados: o Espírito (8.3; 11.1,24), Deus (8.3; 11.20), Ele (8.5,6,7,8,13,14,15,16; 9.7,11; 10.6), Senhor (8.12,14,16; 9.3,9; 10.2,4,18,19; 11.1,2,5,10,12,14,15, 23,25), Deus de Israel (8.4; 9.3; 10.19,20; 11.22), Deus Todo-Poderoso (10.5), Espírito do Senhor (11.5), Senhor Deus (8.1;11.7,8,13, 16,17,21; 9.8; 11.7,8,13,16,17,21), Eu (8.18; 9.5; 11.17,19,20,21), Espírito de Deus (11.24) e Espírito de vida (10.17).

Este foi o sujeito que transmitiu ou revelou a mensagem daquilo que acontecia em Jerusalém ao profeta, para que este o revelasse aos seus conterrâneos. Colocou Ezequiel entre o “céu e a terra” e o levou a Jerusalém para que tivesse as visões. Uma de suas principais ações foi prover as visões de Jerusalém ao enunciador que estava na Babilônia (Ezequiel). Este era o sujeito que estava em Jerusalém, no local em que Ezequiel foi levado pelo Espírito. Este tinha a aparência de algo que o profeta já tinha visto antes no vale (descrição encontrada no capítulo 1). Era quem apresentou a Ezequiel os fatos que faziam referência a Jerusalém e ao templo. Foi ele quem deu as ordens para Ezequiel e mostrou o que ele deveria fazer, como: levantar os olhos e olhar para o norte (8.5), cavar na parede (8.8) e entrar (8.9). Também foi Ele quem levou Ezequiel à entrada da porta da casa do Senhor (8.14) e ao átrio interior da casa do Senhor (8.16). Foi Ele que ficou irado com as práticas que eram feitas no santuário e com a violência que enchia a terra (8.17). Constantemente, ele perguntava a Ezequiel, após apresentar uma situação, se Ezequiel via o que acontecia (8.6,9,12,15,17). Os anciãos da casa de Israel não acreditavam que este era o Deus que estivesse vendo o que eles faziam, porque pensavam que Ele havia abandonado a terra. E este é o ser que estava no controle da situação, pois era Ele que iria tratar com furor e sem piedade aqueles que cometiam práticas repugnantes. Este foi aquele que durante todo o texto conduziu o profeta para ver tudo o que acontecia em Jerusalém e no santuário.

Ele também deu as ordens para que a cidade fosse destruída e foi a Ele que o profeta clamou por misericórdia (9.8). Ele conheceu a maldade da casa de Israel e de Judá (9.9) e, por isso não pouparia nem teria compaixão dos malvados. Ele deu ordens para que um homem vestido de linho pegasse fogo de debaixo dos querubins e espalhasse pela cidade (10.2,6). Ele prometeu a destruição do povo pela espada (11.7-9) e o julgamento de Israel (11.11). Ele queria que seus estatutos fossem cumpridos (11.12) e prometeu espalhar o povo entre as várias nações e terras (11.16), bem como ajuntá-los novamente (11.17), mudando seus corações para que cumprissem os Seus estatutos (11.20).

Ele é apresentado como o dono do espaço no qual aconteciam práticas repugnantes. É devido ao fato de Ele não ter sido adorado ali e também de ali haver acontecido outras adorações que o espaço foi considerado contaminado necessitando ser purificado. Sem dúvida este é o personagem que está no comando de várias ações realizadas em todos os capítulos descritos. Tudo o que aconteceu foi pela sua ordem.

2.2.3 Os anciãos de Judá, as autoridades ou a nação de Judá

Este sujeito é citado no início e no final do capítulo oito (8.1,17) no início do texto eles aparecem como “anciãos de Judá” e no final o texto, como “casa de Judá”. No decorrer do capítulo 8, este sujeito sumiu da história e quem entrou em cena foi a “casa de Israel”. Entretanto, no final do capítulo é novamente citada a “casa de Judá”, junto com aqueles que “cometem práticas repugnantes aqui”.23 Ou seja, eles estavam sendo relacionados juntos com “casa de Israel” de Jerusalém. Há uma ligação próxima entre ambos. Assim, ao mesmo tempo em que o texto descreveu os “anciãos de Judá” como aqueles que estavam com Ezequiel na sua casa na Babilônia, no final eles também foram identificados junto com aqueles que cometiam práticas repugnantes, por verdadeiramente serem a casa de Judá. O texto dá ênfase para eles, identificando-os como sujeitos que também cometiam práticas repugnantes, embora não estivessem em Jerusalém. Quando o texto faz referência às abominações usa a expressão “aqui”, e o faz tanto com relação à “casa de Israel” (8.6) quanto à “casa de Judá” (8.17), indistintamente.

Os sujeitos da “casa de Judá” foram lembrados nos capítulos seguintes como os da “casa de Israel”, especialmente no 11. Eles receberam a promessa de que seriam novamente ajuntados do meio dos povos e voltariam à terra natal e seriam então aqueles que tirariam do espaço sagrado as práticas repugnantes (11.18). A eles também foi feita a promessa de que receberiam um coração modificado, um novo espírito que seria obediente aos estatutos do Senhor (11.19-20). Ao final do capítulo onze, eles entram em cena novamente como sendo os do “exílio” (11.24,25).

As ações deste sujeito revelaram, por um lado, um grupo envolvido com coisas abomináveis, por serem parte do povo de Israel, e, por outro, um grupo que serviria de instrumento no futuro para que a vontade do Senhor fosse cumprida no espaço do templo e da cidade de Jerusalém. Eles são identificados como o grupo que representa a esperança de mudança.

2.2.4 A casa de Israel24

Este sujeito aparece nos textos de 8.6,10,11,12; 9.4,6,9; 11.1,5,15. No capítulo oito, observa-se que a casa de Israel cometia “grandes abominações”25 com o objetivo de afastar a “Glória do Deus de Israel” do santuário (8.6). Eles possuíam e adoravam no templo várias formas de répteis, animais e ídolos pintados na parede (8.10). Entre eles estavam 70 anciãos que tinham nas mãos um incensário (8.11). Eles afirmavam que o Senhor havia abandonado a terra (8.12; 9.9). Dentro deste grupo da “casa de Israel”, foram identificados alguns personagens específicos, além dos setenta anciãos, tais como: Jazanias; algumas mulheres e outros que serão citados a seguir.

No capítulo nove, a casa de Israel recebeu a sentença de morte. Neste capítulo, alguns deles foram identificados como as pessoas da cidade de Jerusalém (9.4) que não se conformavam com as abominações. A estes não estava reservada a matança. Entretanto, outros foram identificados como velhos, rapazes, moças, mulheres e crianças (9.6) que seriam exterminados. Estes homens, considerados abomináveis, encontravam-se inclusive no santuário.

A maldade deles foi descrita como sendo “grandíssima” (9.9), a ponto de encher a terra e a cidade de sangue e perversidade. O termo original usado para “grandíssimo” foi do9öm do9öm l0dfG (gādôl meōd meōd), já citado e comentado anteriormente, que indicava a plenitude da maldade. Outros termos usados neste versículo e que chamam a atenção são o verbo “encher”, cujo original é o verbo 9lm (ml´) no grau nifal, juntamente com o substantivo “terra”, cujo original é Jär9 (’erts). Juntos eles mostram a extensão que alcançou a perversidade da casa de Israel, ou seja, a terra sofreu a ação e “foi enchida” por maldade.

O profeta afirmou que até mesmo as coisas da “mente” do povo da casa de Israel eram de conhecimento do Espírito (11.5). O termo que aparece no texto original para afirmar que o Senhor “conhece” os atos do povo é 8adfy (yāda´). Em relação ao termo usado para “mente”, o original apresenta a expressão ajWr (rûah), que foi traduzida por “espírito”. Este substantivo rûah, neste contexto, descreve uma disposição de atitude mental para fazer algo de forma consciente. Enfim, o texto original mostra que o Senhor conhecia a violação ou a quebra da lei religiosa que a casa de Israel cometia de forma consciente. Isso também fica evidente pela utilização do termo la8fm (mā´al), usado com frequência no livro pelo profeta, que indica esta falta. Ele ainda tem o sentido de “conhecer de forma íntima ou profunda”.

A palavra do profeta que seguiu aos da casa de Israel e Judá foi muito dura. A eles foi dito que seriam entregues à espada (11.8) e na mão de estrangeiros (11.9). Toda essa situação tinha o propósito de que eles soubessem quem era o Senhor (11.10,12). Ao final eles receberam a promessa de que seriam novamente juntados e receberiam a terra de Israel (11.16,17). Foi dito que tirariam as coisas abomináveis de Israel, receberiam um novo coração e cumpririam os estatutos do Senhor (11.18-20). Assim o profeta os descreveu, chamando-os de povo de Deus (11.20). É impressionante que, apesar de tudo o que aconteceu, este povo, ao final de tudo, ainda foi lembrado pelo Senhor como “meu povo”, no texto de 11.20. Sem dúvida, uma expressão amorosa para com eles.

Alguns dos personagens da casa de Israel, (que serão citados brevemente) receberam nomes específicos e também foram identificadas as suas ações, tais como: a) Setenta homens dos anciãos ou autoridades de Israel (8.11,12)26 os que cometiam práticas repugnantes; b) Jazanias, filho de Safã (8.11)27 o qual era uma ancião da casa de Israel que, como os outros, estava em pé diante das pinturas que havia nas paredes do santuário e tinha um incensário na mão. Ele foi citado pelo nome porque deveria ser o mais importante, e o filho de Azur era um dos líderes do povo;28 c) Mulheres (8.14). Elas estavam em Jerusalém e ficavam à entrada da porta da casa do Senhor, do lado norte, e ali assentadas choravam por Tamuz.; d) Vinte e cinco homens (8.16; 11.1). Estes ficavam de costas para o templo, com o rosto virado para o Oriente, prostrados diante do sol. Muitos foram os líderes do povo descritos de forma específica. O que eles faziam como líderes revelou um pouco daquilo que ensinavam aos seus liderados. Percebe-se que estes estavam envolvidos em vários espaços do templo e da cidade.

2.2.5 Os intendentes, destruidores ou guardas da cidade29

Estes apareceram em 9.1,2,8,11 e 10.2,7. Entre eles havia um homem vestido de linho que tinha um tinteiro de escrivão (9.2). Foi este homem que passou pelo meio da cidade, marcando com um sinal as pessoas que não receberiam a condenação (9.3,4,11). Aos outros homens, que o acompanhavam coube cumprir a matança (9.5,6). O homem vestido de linho também recebeu a missão de tirar brasas de entre os querubins e espalhar pela cidade (10.2,7). Dura foi a missão que este sujeito recebeu para cumprir, mas a mesma foi levada até o fim, conforme descrição do texto.

2.2.6 Síntese

Tanto a estrutura de divisão por espaços como a estrutura de divisão por personagens revelaram quem estava no controle da situação. Apesar de muitas ações serem realizadas por líderes, mulheres, moços, velhos e outros, tanto a ação inicial como a final, no bloco descrito, foram realizadas pelo Senhor o que mostrou que tal personagem possuía a autoridade máxima. A organização do texto também revelou isso. A ênfase na palavra do Senhor, quanto àquilo que poderia ser realizado no espaço do templo de Jerusalém e da cidade, e que por fim aconteceu, também caracterizou este discurso do enunciador como algo verdadeiro.

Conforme Peruzzolo, é importante destacar os lugares dos sujeitos do discurso, os quais seriam tanto o narrador como o locutor e o observador, por serem as figuras discursivas ou “mecanismos constituídos entre os lugares dos sujeitos do discurso”.30 O que foi exposto no ponto acima chama-se de mecanismos ou estratégias discursivas que foram utilizadas. Estas ajudaram a construir a relação entre o sujeito e sua fala. Com estes recursos ou a forma de exposição, foi construído um efeito de proximidade entre vários personagens com o local em destaque, bem como com o profeta. Também, através desta forma de exposição, ficou evidente o efeito de testemunha do profeta e o de autoridade do Senhor. Quando se fala na forma de exposição, referimo-nos que a mesma não aconteceu em tempo passado, nem em terceira pessoa; ela não ocorreu de forma alegórica. Toda construção aconteceu dando a impressão de que o sujeito profeta estava próximo daquilo que está sendo proposto como valor: os espaços do templo e da cidade. Assim, o texto foi construído com discurso em primeira pessoa, e esta forma de apresentação subjetividade, é o que traz credibilidade ao fato vivenciado. Tudo isso faz parte da estratégia discursiva, na qual está sendo produzido um efeito de sentido.

Dentro do que se chama de efeito de sentido, o enunciador (profeta) em alguns momentos concedeu a palavra a outros personagens. Essa concessão interna aconteceu para produzir o efeito de “sentido de referente”. Não que a palavra fosse passada a outro, mas ele diz que “o Senhor disse [...]” ou que “os anciãos da casa de Israel disseram”. Tudo isso são construções de efeito que o texto apresenta, para mostrar o distanciamento do sujeito da enunciação (Senhor). Neste sentido, em alguns momentos o profeta tornou-se apenas o porta-voz da enunciação, na qual não tinha responsabilidade com relação àquilo que estava sendo dito.

Outra construção que verifica-se no texto é o chamada de contrato de veridicção.31 Este contrato estabelece a relação entre enunciador e enunciatário e forma-se com investimentos temáticos e figurativos. O traçar da dimensão dos temas e dos investimentos figurativos é o meio pelo qual o enunciador teceu sua lógica de persuasão, que estava baseada em questões de valores e experiências de vida. Ou seja, as divisões acima citadas revelaram alguns aspectos da realidade vivida pelo povo no espaço do templo de Jerusalém e na cidade, os quais foram descritos como práticas repugnantes. As divisões também revelaram que a ênfase estava na voz do Senhor, apesar da divisão acima mostrar um grande número de personagens e existir uma polifonia32 no discurso. Essa polifônia ocorreu com o intuito de fazer a identificação de valores, considerando as relações vigentes na sociedade.

O grande número de espaços diferentes foi descrito com a intenção de revelar que tudo estava contaminado e condenado pelo Senhor e também para mostrar quem estava no controle da situação e quais seriam os espaços que receberiam intervenções.

Com relação aos sujeitos, ou as designações de pessoas, ainda se destaca que o enunciado estava ancorando sua fala em elementos (embreantes33) que o marcaram, que chamamos de embreantes de pessoas. Estes embreantes foram identificados na enunciação por nome próprio. Assim, ajudaram a compreender que o texto do bloco foi organizado em torno da situação enunciada, referente àquele espaço, os quais fizeram uma diferenciação do papel dos personagens nos espaços que estes personagens se encontravam. As ações descritas pelos personagens, estão ligadas aos fatos ocorridos no espaço do templo de Jerusalém e na cidade e seus arredores. Este espaço foi a ênfase do bloco ou o local de destaque do início ao fim. Tudo girou em torno dele, as consequências das ações ali cometidas refletiram-se nos arredores, inclusive afetaram os habitantes do exílio.

O texto apresentou cada ação, neste espaço, de forma bem específica, a tal ponto que o espaço foi amplamente descrito por vários ângulos. Por isso, pode-se dizer que a intenção era mostrar que tudo o que aconteceu ali está sendo observado pelo Senhor para o devido julgamento. Tudo levou à indicação de que as ações desenvolvidas ali não condiziam com a importância do mesmo.

Wiersbe, fazendo menção a este bloco, destaca que enquanto muitas nações gentias tinham seus templos, sacerdotes, leis religiosas e sacrifícios, somente a nação de Israel tinha a Glória do Deus de Israel habitando entre seu povo. Mas, infelizmente, os pecados fizeram tal presença partir. Sem a presença de Deus, o povo tornava-se apenas um povo cumpridor de rituais; todavia, o povo de Deus deveria ser identificado por tal presença, não apenas por ritos.34 Por meio da descrição dos espaços acima mencionados, a profanação do templo evidenciou-se.35 A infidelidade e a corrupção destacaram-se como atitudes generalizadas em tal espaço, assim o quadro do juízo foi exposto.

Ainda há outras formas de estruturação ou caracterização do espaço, as quais podem ser observadas no texto oringinal hebraica e nas versões bíblicas, entretanto estas não serão citadas aqui devido espaço, mas seriam termos, tais como: ali, entre o céu e a terra, Jerusalém, vale, terra, santuário e outros.

3. Sinopse do espaço e as ações no espaço em Ezequiel nos capítulos 8 a 11

De forma breve a seguir destacar-se-á algumas ênfases no que diz respeito tanto as especificações como com relação as ações no bloco acima analisado.

3.1 Um local com especificações

Apesar de ser difícil definir “espaço”, nestes capítulos do livro, devido ao fato de ser apresentado como o espaço existente entre “o céu e a terra” (8.3b),36 este espaço foi bem descrito e caracterizado, inclusive por suas regiões e lados. Observa-se expressões como “[...] a entrada da porta norte do pátio de dentro [...]” (8.3d). Porta aqui e em outros textos (8.5a, 8.7a, 8.8b e 8.14a ) aparece como jatäP (pētah), termo usado em textos bíblicos para designar abertura ou entrada de tenda (Gn 18.1,2), casa (Gn 19.11) ou caverna (1Rs 19.13).37

Junto ao termo jatäP (pētah) aparece em alguns versos como 8.5a o termo “norte” que é designado pelo substantivo hfnowpfx (tsapôna), da raiz 60pfx (tsapôn). É interessante que na mitologia cananeia, o norte era considerado o lugar da assembleia dos deuses. Os deuses reuniam-se no monte tsapân e ali Baal reinava supremo. Partindo desta perspectiva, a razão do salmo 48.2,3 colocar o monte Sião de forma figurada no extremo norte é para mostrar que Deus é o único governante do universo.38 Entretanto, aqui quem estava no norte era o ídolo que provocava ciúmes e, por isso, o Senhor veio a se afastar. Para o termo “caminho”, encontrado no versículo 8.5a, o texto no original traz o substantivo <äräD (derek), que num primeiro momento refere-se a “caminho gasto em função de se ter andado por ele”. Entretanto, em outros momentos o termo indica uma estrada importante, como a estrada real. A palavra também era usada de forma metafórica, especialmente quando se referia à ações e comportamentos dos seres humanos, como no caso do caminho dos justos ou ímpios (Sl 1.6).39 Aqui este caminho estava gasto por ações inadequadas que ocorriam, atitudes de reis ou líderes, as quais não eram íntegras.

Na segunda parte de 8.5, os termos utilizados para caminho e norte foram os mesmos já citados, e para porta o termo foi ra8av (sha´ar), com a ideia de escancarar. Este termo já é diferente de pētah, citado acima. Enquanto pētah tem a ideia de “entrada”, por derivar de um verbo que tem o sentido de “abrir”, sha´ar refere-se ao conjunto todo e à área adjacente de circulação dos dois lados. O sha´ar era o meio de acesso controlado para uma cidade murada.40 Este termo também foi usado em 9.2a e 11.1a. O termo usado para entrada em 8.5b foi hf9iB (bi´â), o qual apareceu apenas neste bloco de Ezequiel e está ligado a uma entrada “dentro do templo onde a repugnante imagem dos ciúmes foi erigida”.41 Em 8.16a, o termo que apareceu para entrada também foi jatäP (pētah).

Todos estes textos, citados acima, mostram os locais aos quais o profeta, no papel de enunciador, foi levado; entretanto, referiram-se às ações cometidas por aqueles que mais a frente foram descritos como sendo os enunciatários (o povo). Assim, num primeiro momento, neste local, o profeta estava no papel de enunciatário, visto estar recebendo o recado de Deus sobre aquele determinado espaço e, somente depois, passou a ser o enunciador diante do povo. É bom lembrar que ali, naquele espaço que ele estava visualizando, ele não tinha poder para agir.

Ainda é observa-se que os termos usados no original hebraico para definir “entre o céu e a terra” são Järä9 (`erets) e 5iyamfv (shāmayim). O termo “terra” (`erets), possui alguns sentidos que são mais comuns ou importantes. Os sentidos mais importantes dizem respeito à terra no aspecto cosmológico ou com a ideia de uma designação territorial específica.42 Observando outras passagens em que o termo “terra” (8.3b) foi usado na Bíblia, como, por exemplo, em Gn 1.9-13, pode-se dizer que o mesmo traz a designação de algo que pertence e está no controle do Senhor. A ideia de designar para alguém um território particular, que usada para o termo “terra” (`erets), é forte e presente aqui.

O termo usado pelo profeta para designar “céu”, 5iyamfv (shāmayim), faz parte de duas categorias. Ele é usado para designar o céu físico, bem como o céu como a morada de Deus. Sendo assim, juntando os dois termos (céus e terra) nestes capítulos do livro de Ezequiel, pode-se dizer que este “entre o céu e a terra” é um espaço que abrange tudo aquilo que está acima da terra, bem como apenas uma parte da terra.43 Por isso, “céu” tem, em si, uma forte ênfase na morada do Senhor. Refletindo nos dois termos e tendo em mente o texto de 8.3b, pode-se dizer que o profeta foi levado entre a morada do Senhor, seja esta o céu ou o templo, e a morada do povo, a terra ou Jerusalém. A junção dos dois termos tem em si, sem dúvida, uma grande força para a comunicação de uma mensagem. Novamente, neste sentido, tal espaço pertenceria ao enunciador. Isso mostrou que este não era apenas um espaço fictício, mas real para aquele que descrevia. Os fatos que ocorrerram naquele espaço o deixaram apavorado, e em alguns momentos ele clamou ao Senhor por piedade. Entretanto, vale lembrar que o espaço “entre o céu e a terra” só foi descrito em parte pelo profeta no papel de enunciador ao enunciatário, neste caso o povo, pois o enunciador somente viu parte do espaço entre “os céus e terra”, ou seja, o templo e seus arredores. Também é bom considerar que 5iyamfv (shāmayim), a esfera descrita como céu, não estava contaminada com ações repugnantes; apenas o espaço terreno, ocupado pelos enunciatários estava contaminado.

Ficou claro ainda, que este espaço pertenceu a alguém, um ser específico, pois o espaço da visão foi descrito como sendo seu, através de alguns versículos tais como: “[...] meu santuário” (8.6b, 9.6c), “[...] casa do Senhor” (8.14a), e “[...] templo do Senhor” (11.1a). Um termo observado no original em 8.6 e 9.6 é yivfDöqim (miqdāshi), que significa “lugar santo” e tem por raiz vadfq (qādash), que traz a conotação de algo que pertence a uma esfera do que é sagrado. Enquanto a raiz faz a distinção entre aquilo que é sagrado e que é profano, o substantivo miqdāshi denota aquilo que foi “dedicado ao domínio do sagrado”44 e especifica uma determinada área que foi dedicada à adoração do Senhor. Os versículos 8.14 e 11.1 mostram ainda, através do termo original hfwhöy-tyeB (bayît YHWH – casa de Iavé), a quem pertencia tal local, ou seja, ao enunciador principal, Deus.

Tudo isso leva à observação e conclusão de que tal espaço citado no livro é, num primeiro momento, limitado a certa extensão e é pertencente a alguém, neste caso, ao Senhor. Não é um espaço que está sob o domínio do profeta ou do povo. Por esta razão, o povo não poderia fazer ali o que achava melhor ou sua vontade particular. Este não era um espaço que pertencia ao profeta; ele apenas o visualizou, mas tal espaço pertencia ao enunciador, o próprio Senhor. Este espaço foi claramente descrito, mostrando sua importância tanto naquilo que se referiu à vida religiosa, tendo suas entradas designadas para a realização de cerimônias com seu Deus, como naquilo que dizia respeito à vida social do povo, para com seu próximo.

3.2 Um local de manifestações e intenções

No espaço visualizado em Ezequiel 8 a 11, tanto no santuário como na cidade, pode-se ver algumas atitudes do povo que levaram a uma ação de Deus. Ficou evidente que a destruição por parte de Deus, deu-se devido às próprias atitudes de seu povo, classificadas como abomináveis e iníquas. As pessoas que cometiam essas ações eram líderes do povo (11.2). Além disso, o texto, a partir do verbo que aparece no original em 11.2, a saber, 5yibövojah (hahoshebym), que vem da raiz bvj (hāshab) e foi traduzido por “maquinar” ou “planejar” (11.2), mostrou que estas pessoas tinham a mente voltada para a atividade de pensar, com ênfase em “criar novas ideias” perversas.45 Estas novas ideias eram realmente sofrimento. Isso pode ser verificado através do substantivo que acompanha o verbo bvj (hāshab), a saber, 6äwf9 (`āwen). A ideia deste termo pode ser, entre algumas possibilidades, a de “sofrimento, maldade, iniquidade, idolatria”.46 Em alguns contextos, como em Provérbios, o termo pode designar “homens peritos em magia ou rituais idólatras”.47 Os termos, sem dúvida, mostram que eles tinham a mente voltada a criar coisas más em tais locais.

Além destes locais serem especificados por regiões, ainda houve a descrição da cidade como um local de abominações e maldades por parte do povo e dos líderes (9.4). Em 9.4, “práticas repugnantes” foram descritas por hfbe80T (tô´ēbâ), que pode ser práticas repugnantes tanto de “natureza física, ritual ou ética e tais causam repulsa em Deus”.48 Foi evidenciado, através deste termo, que o que estava acontecendo era inclusive esteticamente repugnante aos olhos do Senhor. Tais ações e intenções causaram a ira do Senhor.

Foi por essas razões que a ira do Senhor (9.8) foi derramada, não somente no santuário, mas em toda a cidade, conforme 9.8b. A ideia do sentimento de Deus aqui foi expressa através de um termo provindo da raiz hfmej (hēmâ), que significa “calor, indignação, ira, raiva, veneno, desprazer intenso”. 49 Os termos derivados desta raiz vão em direção de algo quente ou de calor como de fogo. Esse calor, descrito por hēmâ, é algo que vem lá do íntimo do ser, algo do coração ou da mente. Essa era a reação que Deus estava tendo diante da situação apresentada, ou da infidelidade do povo. Desta forma, pode-se dizer que a hēdo Senhor foi provocada pela associação de atitudes do seu povo, ligadas a práticas repugnantes de idolatria. Os versículos 9.6 e 9.7 atestaram isso, pois afirmam: “Matai velhos, rapazes, moças, mulheres e crianças, até exterminá-los [...] [...] começai pelo meu santuário” (9.6), “[...] contaminai a casa, e enchei os átrios de mortos [...] [...] e puseram-se a ferir a cidade” (9.7).

O versículo 9.9a também mostrou as intenções do povo. No original aparece o termo do9öm do9öm l0dfG (gādôl meōd meōd), que indica o grau máximo de intensidade; ou seja, realmente havia “plenitude” na questão de maldade. Estes termos foram seguidos, neste versículo, pelo verbo 9lm (ml’), que tem por tradução a ideia de “estar cheio” no grau nifal, que indica que a cidade “foi enchida” de algo. Isso revela que as maldades, iniquidades ou culpa (6028 -´awon) do povo estavam por todo lugar.

Por outro lado, tem-se a manifestação do Senhor, que também “encheu” as mãos do homem vestido de linho, só que de brasas para incendiar a cidade. O termo que aparece no original também é o verbo 9lm (ml’), só que aqui o verbo aparece no grau piel, indicando algo muito intenso. O versículo 2 do capítulo 10 afirma: “[...] Enche as tuas mãos de brasas ardentes apanhadas de entre os querubins, e espalha-as sobre a cidade [...]”. Isso é uma indicação da real intenção de julgamento, pois “brasas”, termo descrito no hebraico por täläjaG (gahelet), é usado como indicação de juízo divino. Além disso, o termo “brasas” está associado a fogo (ve9 - `ēsh), que, no Antigo Testamento, em muitos casos, simboliza julgamento. E ainda, os termos brasas e fogo são seguidos de uma exclamação do profeta: hfh29 (`ahah), conforme o texto de 11.13b o que evidenciou a certeza da intenção do Senhor.

Está evidente que ali aconteciam algumas ações de idolatria que desagradavam ao Senhor, causa da destruição do povo, conforme os versos 8.6a ou 8.6b. Ezequiel 8.6b fez uso de expressões já comentadas acima, tais como t0lodöG (gedolôt), que significa “grandes”, e t0be80T (tô´ēbôt), que significa “abominável”. O termo abominável também apareceu em 8.9b. Neste versículo, abominação vem junto com o adjetivo t08frfh (hāra´ot), que provém da raiz 8fr (ra´) que significa “mau, mal, ruim”,50 e tem conotação de algo repulsivo, além de revelar falhas morais que acarretam danos à própria pessoa ou a outros. Versículos como 8.6,9,17 também têm a expressão “aqui”, que no original é especificada pelo advérbio hoP (pōh), que significa mais especificamente “neste lugar”.51 Por isso, fica claro que todas estas ações aconteceram em um lugar que o profeta viu e conhecia.

Em 8.11b, observa-se a seguinte afirmação: “setenta autoridades da nação de Israel, [...] estavam em pé diante das pinturas. Cada um tinha na mão seu incensário [...]”; em 8.12: “[...] você viu o que as autoridades de Israel estão fazendo nas trevas, cada um no santuário de sua própria imagem esculpida?”; em 8.14b: “Lá eu vi mulheres sentadas chorando por Tamuz”; em 8.16b e, em 8.17 mais coisas podem ser observadas, sendo que todas revelaram a intenção e as ações do povo, bem como a intenção do Senhor diante do ocorrido. Assim, este espaço descrito em Ezequiel foi o local no qual aconteceram manifestações por parte de um vingador e foi o espaço em que aconteceu a morte de vários idólatras, conforme afirmado nos textos de 9.1b e 9.2.

Todas estas expressões, acima citadas, ressaltam que aqui o profeta foi apenas um enunciador dos fatos ocorridos em lugares que foram de extrema importância para o período histórico do qual ele falava. Este local era importante especialmente no aspecto religioso, pois ali ocorria oficialmente o encontro do povo com o seu Deus, porém ações que ali estavam sendo realizadas, por algumas pessoas, estavam impedindo que tal encontro se tornasse algo real.

Nestas passagens acima citadas, há a menção de quem deveria estar naquele local, bem como a quem pertencia o santuário. Sendo assim, este era o espaço no qual o Senhor queria operar a Sua vontade. Este não era um espaço infinito, mas um espaço limitado territorialmente, pois o texto revelou algumas dimensões a partir de tantas marcas encontradas, tais como: do lado norte, entrada, porta, parede, caminho, átrio, interior, casa, templo, diante do sol, cidade, Jerusalém, santuário e outros. As marcas deixadas nestes capítulos, expressas através dos termos acima citados, mostram que ali Deus queria habitar e ser adorado de maneira exclusiva e total, mas também revelam ações contrárias a esta soberana vontade.

As práticas repugnantes foram cometidas pelo enunciatário, claramente descrito no texto como sendo o povo. Este, em alguns momentos, foi apresentado de forma mais especifica como nos seguintes versículos: 8.6,11b,14b,17; 9.6,9; 10.2; 11.2b; As atitudes deste enunciatário foram contrárias à vontade do enunciador no espaço descrito. Vale lembrar, conforme Sicre, que o pior dos castigos que Deus poderia dar a Israel seria a destruição do templo e o desaparecimento de sua Glória, conforme a visão descrita nos capítulos 8 a 11. Entretanto, a passagem de condenação para salvação, vista em todos os livros proféticos, aparece também no livro de Ezequiel, de forma clara, nos capítulos finais.52

A partir da semiótica há outras formas de olhar o texto, que são significativas, tais como, a análise da interdiscursividade e a intertextualidade53. Estes são pontos de vista importantes, pois todo texto nasce dos conflitos ou dos discursos de uma sociedade, de um determinado contexto, e é a isso que se refere a questão da interdiscursividade. As relações interdiscursivas podem se estabelecer com discursos tanto anteriores como contemporâneos à sua época, e, da mesma forma, as relações intertextuais. A formação interdiscursiva é importante porque é o interdiscurso que determina a formação do discurso. O interdiscurso também revela a realidade dos sujeitos. Lagazzi explica essa questão, afirmando que “para que uma palavra tenha sentido é preciso que ela já faça sentido”. Isto é o chamado efeito pré-construído, ou seja, “a impressão do sentido lá que deriva do já-dito, do interdiscurso e que faz com que ao dizer já haja um efeito de já dito sustentando todo o dizer”.54 Indursky afirma que “pode-se pensar o texto como um espaço discursivo, não fechado em si mesmo.”55 Embora entenda-se que este bloco de textos não está fechado em si mesmo, mas foi constituído por outros fatores, como suas relações contextuais, textuais, intertextuais e interdiscursivas e este seja um ponto importante o mesmo não será abordado devido espaço. Estes aspectos serão analisados separadamente em outro momento.

4. Síntese geral da análise do plano de expressão

Os textos dos capítulos 8 a 11 revelaram a integralidade das ações que os personagens deveriam ter em ambos os espaços. Independentemente de ser o espaço do templo ou as áreas ao redor deste, o importante eram as atitudes ali manifestas. Estas deveriam condizer com a vontade do Senhor, em todos os espaços, fossem estes litúrgicos ou não e também se as ênfases das atitudes estivessem ou não ligadas a questões litúrgicas, de moralidade ou de justiça com o próximo.

Tal espaço, na situação em que estava, tornava-se sem serventia. Nestes capítulos, sua utilidade foi questionada porque as celebrações nele existentes não seguiam as leis para cumprimento da adoração única a Iavé nem auxiliavam a dar fim na opressão e exploração causadas pelos líderes que ali ministravam.56 Por outro lado, a proximidade do Senhor com este espaço era o que realmente traria a segurança esperada para o fim da opressão e da exploração, descritas no texto por abominação, iniquidade, conselhos perversos e coisas vis cometidas pela cidade (9.4,9; 11.2). A análise do plano de expressão revelou que o Senhor anunciou o seu querer com relação aos fatos ocorridos e este querer também se referia a Ele não aceitar morar em locais contaminados ou profanos.

Além da própria estrutura da divisão por capítulos ter evidenciado a questão do julgamento, muitos autores também concordam que os capítulos 8 a 11 fazem parte de uma grande unidade, que mostra uma visão de julgamento. A estrutura da divisão dos capítulos comprovou que o capítulo 8 constituiu a acusação dos pecados; o capítulo 9, a sentença e a execução, e o 10, juntamente com o 11.23-25, terminou a execução com o Senhor abandonando o templo, bem como a cidade.57 Há, além da estruturação destes capítulos em relação ao julgamento, correspondências entre as mensagens de desgraça e salvação, a partir da ação de retirada do Senhor do templo (8-11) e do Seu retorno (43-48),58 texto que não foi visto aqui.

A descrição da estruturação do espaço a partir de termos e regiões específicas, conforme a análise do plano de expressão, tais como: “ali, entre o céu e a terra”, mostrou que houve o uso de questões literárias para descrever este espaço, com a intenção de convencer da importância do mesmo. Com relação a esta estrutura, ainda que alguns autores compreendam certas partes do texto destes capítulos (10.9-10), como sendo cópias “desajeitadas” de 1.8 feitas por redatores posteriores, ou que estas sejam vistas como repetições com variações insignificantes de 1.15-16, ou até mesmo a parte do capítulo 10.11-12 como adaptações ou cópia inadequada do versículo 1.18,59 estes textos são muito mais que isso. Eles revelam ser complementos para a compreensão de algo que já havia acontecido na vida do profeta, e servia de aviso para que o povo compreendesse o que estava por vir. Tudo está concordando entre 10.14 e 1.10, como diz Brownlee,60 e isso traz a evidência da relação entre os acontecimentos que descrevem o seu chamado e os que descrevem a destruição e o julgamento do povo e de Jerusalém. Ou seja, o mesmo ser que se manifestou de maneira tão grandiosa no seu chamado é o que se manifesta agora para anunciar a destruição.

Vários detalhes do texto mostraram a importância deste espaço. O papel dos sujeitos nestes locais é um dos destaques. As quatro ações de pecado, descritas no capítulo 8, consistem em gestos de idolatria e de abandono do Senhor. Existe uma progressão nesses quatro pecados que pode ser vista, ou é indicada, pela aproximação do profeta em relação ao templo. A primeira ação está na abertura da porta, a segunda na entrada do pátio, a terceira na entrada do portal do templo do Senhor e a quarta no átrio interior do templo do Senhor, na entrada do santuário. Assim, ve-se que o movimento é de fora para dentro e, em cada uma destas etapas, Ezequiel assistiu às abominações, que se tornam cada vez mais graves. Primeiramente, elas foram descritas como figuras em uma laje. Estas causavam ciúmes em Deus, pois são figuras de outros deuses. Depois, por meio de um culto, havia animais abomináveis que eram sacrificados por setenta anciãos de Israel. A seguir, veio o culto a Tamuz, que era abertamente praticado pelas mulheres. Neste culto, era lamentada a morte do mesmo. Finalmente, o profeta viu vinte e cinco homens prostrados olhando para o sol, ao invés de estarem voltados para o templo. O resultado de tudo isso foi o Senhor agir com fúria, sem poupar a ninguém.61 Toda esta falta de integridade e santidade do povo, que está descrita no capítulo oito, a começar pelos líderes e sendo seguida pelos anciãos e pelas mulheres, era algo possível, tendo em vista as práticas pagãs que existiam na região. Diante dessa situação, também é possível compreender o porquê da terra estar cheia de violência, conforme 8.17. É impressionante que, apesar de todas as corrupções que existiam, Ezequiel ainda tenha dito: “Eis que a glória do Deus de Israel estava ali” (8.4). A impressão é que o profeta estava querendo dizer que Deus estaria com o povo até “o último momento de sua rejeição”.62 Entretanto, de maneira diferente, Brownlee cita Eichrodt e Zimmerli, que veem o versículo quatro, do capítuo 8, como sendo uma interpretação feita mais tarde por um editor. Isto é afirmado porque ele dá a impressão de antecipar a verdadeira visão do profeta, que está em 8.5. Entretanto, isto não significa que o versículo seja “inautêntico”. O que deve ser salientado é que, de qualquer maneira, o Senhor desceu dos céus, como no capítulo um, e veio para lançar o julgamento sobre Jerusalém.63 Além disso, o fato deste personagem ser mencionado já no início do texto, revela que o profeta fez questão de enfatizar a presença do Senhor em tal espaço, inclusive antes do relato das abominações, para mostrar que era ele quem o conduzia na visão tão aterradora.

Quanto à questão do julgamento, aquilo que foi proferido em 8.18 contra o povo, efetivou-se na visão que está no capítulo nove. Num primeiro momento, aconteceu a matança daqueles que faziam o que era abominável ao Senhor e enchiam a terra de violência (v.18). Os executores foram convocados pelo Senhor, e eles vieram do lugar onde havia a imagem dos ciúmes (9.2) ou de onde as mulheres choravam. Seis destes executores tinham em suas mãos armas descritas como destruidoras. O texto de 9.3-7 é importante, pois traz relatos dos movimentos do Senhor. O versículo três relata o movimento da partida do Senhor do templo. A partir do versículo 4 até o 7, encontra-se instruções ao anjo e para os outros seis homens que estavam juntos, mostrando que o que evitaria a matança de algumas pessoas seria a preocupação que demonstravam com o sofrimento e com as abominações (9.4) e a apostasia da cidade. Na realidade, não haveria nada que isentasse alguém, a não ser ter o sinal.64 Os que não o tivessem o sinal seriam mortos, independentemente se fossem velhos, moços ou crianças. Tudo começou pelo santuário, e ninguém além dos que tinham a marca foi poupado. O interessante é que, neste castigo, o caminho feito era o inverso, ou seja, do centro do santuário (9.6) para a cidade. Para alguns autores, estes seis homens são apresentados como aqueles que se submeteram a serem instrumentos nas mãos de Deus, pois cumpriam a sua vontade.65

Os versículos 8 a 11, do capítulo 9, revelam a aflição do profeta diante de Deus devido à matança, e ainda mostram que o apelo (9.8) de nada valeu, pois Israel havia ido muito longe. Eles ainda declaram que Ezequiel não sentia prazer em transmitir a mensagem de julgamento, pois tinha sentimentos de piedade para com seu povo.66 Neste sentido, a intercessão do profeta vem para denotar algo importante, pois ao mesmo tempo em que ele aceita participar dos sentimentos de Deus, também está envolvido com os sentimentos do povo. Por isso, Ezequiel é visto como mensageiro de Deus e defensor do povo.67 É interessante observar que, no final do capítulo nove (9.9), o povo pecava acreditando que o Senhor havia abandonado a terra; entretanto, o Senhor estava presente vendo tudo aquilo que ocorria, e por isso houve o julgamento e a condenação.

O tempo de juízo chegou e o texto deixou evidências de que isso aconteceria devido à maldade da nação. O extermínio deveria acontecer porque algumas práticas e abominações não deveriam ser ensinadas e praticadas pelo povo de Israel. Este castigo torna-se até paradoxal quando ve-se que o povo de Israel, que na realidade deveria exterminar os inimigos gentios a fim de não ser contaminado por suas idolatrias, agora estava tão contaminado que também deveria ser eliminado. Neste sentido, ali também estava a esperança, pois a matança era para a salvação dos santos, conforme Rad, no sentido de o povo não ser contaminado com as abominações que aconteciam, bem como para que em Jerusalém houvesse santos. Desde o início do capítulo 9, há a evidência de que o castigo aconteceu devido aos pecados que o povo estava cometendo, pois aqueles habitantes que se apegaram ao Senhor foram salvos.68 Por isso, este episódio prenuncia uma individualização, visto que alguns são excluídos do juízo que está ameaçando todo o povo. Desta forma, pode-se dizer que a punição vista por Ezequiel era, na realidade, uma purificação feita por Deus.

Não é possível afirmar que foi devido à matança que aconteceu no santuário que o mesmo ficou contaminado, pois isto já havia acontecido com as abominações de idolatria. Também deve-se lembrar que, quando aconteceu a matança, o Senhor já não estava mais neste local, porque seu próprio povo já o havia abandonado. Esta também foi uma das razões pela qual Deus não foi misericordioso com eles.

Há outros detalhes no texto, os quais não foram aqui expostos, tais como o uso de determinadas metáforas, que conduziram à compreensão de que a presença divina naquele espaço e naquele momento específico da história era sinal de destruição e não de proteção. Assim, neste bloco, de certa forma a proximidade da presença divina significava ira ao invés de aprovação. A análise do texto mostrou que o Senhor estava pondo fim a todas as abominações que estavam acontecendo na vida de Israel, inclusive a resistência à sua obediência. Neste pensamento, Stein diz que Deus estava se apresentando ao profeta como o majestoso, onipotente, o infinitamente perfeito Deus, que não está preso a um templo ou país específico; aquele a quem todo o universo e também os deuses babilônicos estão subordinados.69

Não dá para se ter uma real noção do que o profeta sentiu quando viu aquele espaço tão especial naquela situação. Mesquita lembra que o profeta ficou muito sentido com a visão do que aconteceria com sua amada cidade, porque era um homem piedoso e esta pode ter sido a razão pela qual Deus lhe antecipou a visão.70

As descrições dos capítulos 8 a 11 de Ezequiel mostraram os julgamentos contra o espaço da cidade de Jerusalém e contra o povo de Judá. Foi o próprio Senhor que desceu dos céus para lançar julgamento sobre o espaço da cidade de Jerusalém. Assim, a decisão irreversível de retirada, tomada por parte do Senhor, mostrou-se como indício de que Ele é um ser com vontade própria, bem como um ser que domina. Além disso, alguns seres que são apresentados neste bloco, a exemplo do homem vestido de linho ou do profeta, foram descritos como estando a serviço de um ser ou comando superior. No texto, as falas e ações deste ser superior foram usadas como um recurso persuasivo para que os destinatários entendessem o recado.

Este ser sobrenatural se mostrou como alguém que esperava que a confiança estivesse nele e não em símbolos ou paredes, pois esta era a ideia do povo, ou seja, que enquanto as paredes do templo estivessem em pé, independente do que eles fizessem, o Senhor estaria ali, mesmo que eles estivessem envolvidos com idolatria. Entretanto, o Senhor esperava confiança ilimitada do povo e não poderia aceitar dividir seu poder com ninguém, mesmo que para o povo entender isso fosse necessária a destruição do espaço de sua morada; da cidade e dos próprios habitantes. Este bloco mostrou uma condenação absoluta e completa, não somente pela destruição do espaço da cidade e do templo, mas a maior condenação foi realmente o abandono do Senhor do espaço do templo, em outras palavras, do povo, o que na realidade era o mais triste de todos os acontecimentos.

REFERÊNCIAS

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1 A autora é bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (Curitiba, 2000); licenciada em Pedagogia pela UNIJUÍ (Ijuí, 2007); mestre em Teologia (Bíblia) pela EST (São Leopoldo, 2006); doutora em Teologia (Bíblia) pela EST (São Leopoldo, 2012). Professora da Faculdade Batista Pioneira em Ijuí e das Faculdades Batista do Paraná. E-mail: marivete@batistapioneira.edu.br

2 Para observar questões críticas dos textos dos capítulos 8 a 11, pode-se consultar o comentário de ZIMMERLI, Walther. Ezechiel: 1-24. Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1969. 578 p. A presente pesquisa não tem o foco nas questões de crítica porque o trabalho não tem por ênfase evidenciar as tensões e incoerências no que diz respeito à redação. A busca não será pela reconstrução o texto tal qual saiu da mão do autor ou do último redator, trabalho significativo e feito pela Crítica textual. Entretanto, em alguns momentos significativos, apontamentos serão dados a esta questão.

3 Para mais informações sobre a questão da segmentação, recomendamos o material de: ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Manual de exegese. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 37. Neste há a orientação de que a segmentação é um procedimento igual ao da delimitação, entretanto restrito ao texto e visa à subdivisão do mesmo.

4 Greimas fala da textualização como parte do conjunto de procedimentos “chamados a se organizarem numa sintaxe textual – que visam à constituição de um contínuo discursivo”. GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima. et al. São Paulo: Cultrix, 198, p. 504.

5 INDURSKY, Freda. O texto nos estudos da linguagem: especificidades e limites. In: ORLANDI, Eni P.; LAGAZZI-RODRIGUES, Suzy (Orgs.). Discurso e textualidade. Campinas: Pontes, 2006. p. 22.

6 FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 13.ed. São Paulo: Contexto, 2005, p. 31.

7 INDURSKY, In: ORLANDI; LAGAZZI-RODRIGUES, 2006, p. 22.

8 BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2003, p. 77.

9 Para mais informações sobre a questão da segmentação, recomendamos o material de: ZABATIERO, 2007, p. 37. Neste há a orientação de que a segmentação é um procedimento igual ao da delimitação, entretanto restrito ao texto e visa à subdivisão do mesmo.

10 Para maiores informações sobre a questão da estruturação, recomendamos o material de: ZABATIERO, 2007, p. 37. Neste há a orientação de que a estruturação diz respeito à identificação dos tipos de arranjos pelo qual o texto é dividido, e é o passo que segue à delimitação.

11 SILVA, Cássio Murilo Dias da. Metodologia de exegese bíblica. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 84.

12 TAYLOR, John B. Ezequiel: introdução e comentário. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 93.

13 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Antigo Testamento, proféticos. Tradução de Susana E. Klassen. São Paulo: Geográfica, 2006, vol. 4, p. 223.

14 WIERSBE, 2006, vol. 4, p. 223-224.

15 BARROS, 2003, p.16.

16 BARROS, 2003, p.16.

17 Ele é tido como o profeta que viveu em um dos períodos mais difíceis da história judaica, o exílio babilônico, o que pode indicar a razão de seu nome, ou seja, fortaleza ou El é forte. É provável que tenha falado aos exilados em Tel-Abibe. Estes foram levados de Jerusalém em 597 a.C., e moravam próximos ao rio Quebar (GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Vida, 2000, p. 209).

18 STEIN, B. Der Begriff kebôd Jahweh und seine Bedeutung für die alttestamentliche Gotteserkenntnis. Philadelphia: Westminster, 1978, p. 274.

19 STEIN, 1978, p. 269.

20 SCHÖKEL, L. Alonso; DIAZ, J. L. Sicre. Profetas II: grande comentário bíblico. Tradução de Anacleto Alvarez. São Paulo: Paulinas, 1991, p. 707.

21 COPPES, Leonard J. 5fdf9 (´ādām). In: HARRIS, R. Laird; et al. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 13.

22 STEIN, 1978, p. 274.

23 A NVI não traz o termo “aqui”, mas no texto original ele está presente.

24 Sicre, citando Smith, comenta que “Casa de Israel” refere-se ao Reino do Norte (SICRE, José Luís. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 300).

25 A NVI não usa o termo “abominações”. Para tal, ela utiliza “práticas repugnantes”, mas em alguns momentos ele será utilizado, na pesquisa, para melhor explicar algumas palavras que acompanham no original o termo t0lOdöG t0be80T (to´evot gedolot).

26 Estes homens não faziam parte de uma assembleia, tal como o Sinédrio, mas eram parte dos líderes de Israel. Entretanto, o tamanho indica que era a maioria que adorava divindades estrangeiras (TAYLOR, 1984, p. 91).

27 Era um homem do qual a família se destacava na vida pública em Jerusalém, e Safã, provavelmente, era o secretário de estado de Josias (2Rs 22.3). (TAYLOR, 1984, p. 91).

28 GARDNER, Paul D. Jazaanias. In: GARDNER, 2000, p. 290.

29 Para Taylor, estes foram os homens convocados pelo Senhor, os quais também agiam como guias de Ezequiel e devem ser entendidos como anjos, ainda que sejam descritos como homens. (TAYLOR, 1984, p. 93).

30 PERUZZOLO, Adair Caetano. Elementos de semiótica da comunicação: quando aprender é fazer. Bauru: EDUSP, 2004, p. 162.

31 A coerência da verdade depende de mecanismos epistêmicos da cadeia de comunicação, tanto nas instâncias do enunciador como do enunciatário, ou seja, depende assim da coordenação desses mecanismos. Este equilíbrio é denominado de contrato de veridicção (GREIMAS; COURTÉS, 1983, p. 530).

32 A polifonia, conforme Peruzzolo acontece não somente a partir de marcas do discurso, mas principalmente a partir das relações intertextuais, na qual o destinador é localizado e construído a partir do conjunto de outros discursos já existentes, e constituído em outros campos sociais (PERUZZOLO, 2004, p. 201).

33 A embreagem serve de suporte para o enunciado. É o efeito de retorno à enunciação produzido pela oposição entre certos termos das categorias pessoa, espaço ou tempo. Através de embreagem ou debreagem, por exemplo, é instalado no discurso um sujeito distinto ou distante em relação à instância da enunciação. Assim a embreagem se decompõe em actancial, temporal ou espacial, procedimentos que podem ser analisados separadamente (GREIMAS; COURTÉS, 1983, p. 159-160).

34 WIERSBE, 2006, v. 4, p. 219.

35 BAXTER, Sidlow. Examinai as Escrituras: Ezequiel a Malaquias. Tradução de Neyd Siqueira. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 38.

36 Para Mesquita, o profeta foi carregado de forma milagrosa por Deus, através dos desertos entre a Babilônia e Jerusalém (MESQUITA, Antônio Neves de. Estudo no livro de Ezequiel. Rio de Janeiro: JUERP, 1978, p. 44). Taylor fala desta experiência como um arrebatamento em êxtase (TAYLOR, 1984, p. 90).

37 HAMILTON, Victor P. jatäP (petah). In: HARRIS, 1998, p. 1251.

38 HARTLEY, John E. 60pfx (tsapôn). In: HARRIS, 1998, p. 1301.

39 WOLFF, Hans Walter. Bíblia, Antigo Testamento: introdução aos escritos e aos métodos de estudo. São Paulo: Paulinas, 1978, p. 327.

40 AUSTEL, Hermann J. ra8av (sha´ar). In: HARRIS, 1998, p. 1301.

41 MARTENS, hf9iB (bi´â). In: HARRIS, 1998, p. 157.

42 HAMILTON, Järä9 (`erets). In: HARRIS, 1998, p. 124-125.

43 AUSTEL, 5iyamäv (shāmayim). In: HARRIS, 1998, p. 1581.

44 MCCOMISKEY, Thomas E. vadfq (qādash). In: HARRIS, 1998, p. 1320-1325.

45 WODD, Leon J. bvj (hāshab). In: HARRIS, 1998, p. 544.

46 LIVINGSTON, G. Herbert. 6äwf9 (‘awen). In: HARRIS, 1998, p. 36.

47 LIVINGSTON, 6äwf9 (‘awen). In: HARRIS, 1998, p. 37.

48 YOUNGBLOOD, Ronald F. hfbe80T (tô´ebâ). In: HARRIS, 1998, p. 1653.

49 VAN GRONINGEN, G. hFmej (hēmâ). In: HARRIS, 1998, p. 611-612.

50 LIVINGSTON, 8ar (ra´). In: HARRIS, 1998, p. 1441-1443.

51 HAMILTON, hoP (pōh). In: HARRIS, 1998, p. 1205.

52 SICRE, 1996, p. 309-310.

53 Fiorin define intertextualidade como o “processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo” (FIORIN, 2005, p. 30).

54 ORLANDI, Eni. P; LAGAZZI-RODRIGUES, Suzy (Orgs.). Discurso e textualidade. Campinas: Pontes, 2006, p. 18.

55 INDURSKY, Freda. O texto nos estudos da linguagem: especificidades e limites. In: ORLANDI; LAGAZZI-RODRIGUES, 2006, p. 69.

56 Considerando todo o discurso dos capítulos, entendemos que as considerações evidenciaram a presença de conflitos, e a análise interdiscursiva situou o contexto sociocultural da época, que enfatizou a opressão e exploração da época. Quanto a isso, citamos Zabatiero, que faz uso de Brereton para afirmar que “a celebração adequada do culto, com gratidão e solidariedade, no lugar único escolhido por Javé, garante a bênção de Javé para seu povo”. O destaque do lugar escolhido por Javé é porque “é um lugar de comunicação com o ser divino, o lugar sagrado é também um locus para o poder divino, que pode transformar a vida humana” (ZABATIERO, 2002, p. 76).

57 SCHÖKEL; DIAZ, 1991, p. 724.

58 SCHMIDT, Werner H. A fé do Antigo Testamento. Tradução de Vilmar Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 243.

59 CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo. 2.ed. São Paulo: Hagnos, 2001, vol. 5, p. 3223-3224.

60 BROWNLEE, William H. Ezekiel 1-19. Waco: Word Books, 1986, vol. 28, p. 151.

61 MONARI, Luciano. Ezequiel, um sacerdote-profeta: pequeno comentário bíblico AT. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 42.

62 TAYLOR, 1984, p. 90.

63 BROWNLEE, 1986, p. 131.

64 TAYLOR, 1984, p. 93-95.

65 MONARI, 1992, p. 43-44.

66 TAYLOR, 1984, p. 94-95.

67 MONARI, 1992, p. 44.

68 RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. Tradução de Francisco Catão. São Paulo: ASTE, 1986, vol. 2, p. 224.

69 STEIN, Bernhard. Der Begriff kebôd Jahweh und seine Bedeutung für die alttestamentliche Gotteserkenntnis. Emsdetten: Verlags-Anstalt Heinr. & J. Lechte, 1939, p. 274.

70 MESQUITA, 1980, p. 48.